Terra à Vista (não a prazo!)
Senti a necessidade de repensar minha História
(sim, com H maiúsculo) e tentar encontrar algumas respostas que, talvez, me
induzam à percepção de como me tornei uma educadora, de como, hoje, tenho a
ousadia de escrever sobre educação.Como toda “boa” História, a minha também
deve ser entendida dentro de um contexto de grandes navegações: as minhas
navegações.
Aventurada a descobrir o que o futuro profissional
me aguardava, tinha objetivos definidos e extremamente claros de que o
jornalismo seria a carreira desejada: não pensava em bancadas estáticas e
formatos prontos de telejornais, pensava na correspondência internacional,
navegar em terras desconhecidas era o foco certo.
Entretanto,
essa tão objetivada terra que estava às minhas vistas estava também inserida em
um sistema educacional que excluía alguns e elegia outros. Por não ter médias
alcançadas em uma escola privada, interrompi minha navegação. Desci na terra
mais próxima.
Sim, esta terra estava habitada. Não por mim... A
terra já tinha seus ranços e eu ainda nem tinha os meus. Magistério foi o curso
que me restou. Invasão à vista: Não, eu não invadi terras alheias, as terras
alheias me escolheram. Mas, tinha a utopia de que muitos ventos iriam soprar e
direcionar a minha caravela à minha Índia: o jornalismo que me aguardasse.
Mero engano. O sistema - nada democrático -
educacional barrou a minha entrada em uma universidade que tinha o curso tão
desejado. Eu precisava de uma moeda. O escambo não era permitido: Ora, eu poderia
dar o meu empenho, a minha vontade, a minha determinação e eles me dariam o
ingresso no curso. “– Não, senhora, precisamos de moedas –”.Minha terra, minha
Índia, era à vista. Não a prazo.
Exclusão. Precisaria de uma universidade pública e
gratuita que concordasse no escambo que eu poderia fazer. Mas, esta
universidade não me proporcionava o alvará para que eu pudesse rodar o mundo em
busca de informação. Esta universidade não me proporcionava a minha Índia. E um
curso de Licenciatura foi uma terra avistada.
Paralelo,
já havia me inserido no mercado de trabalho como professora. Sim, no sentido
mais literal do termo mer-ca-do e no menos político da palavra tra-
ba-lho. Era professora. Sem um ponto de exclamação no final. Onde estava a
correspondente internacional? Era uma quimera. Nascia a professora municipal.
Revendo as minhas navegações, tento avaliar se me
colonizei ou me colonizaram. Se invadi ou fui invadida. Tento avaliar o porquê
o sistema vigente impõe tantas rotas aos navegantes. Quebra tantos lemes. Usa
tantas âncoras. São muitas as indagações que ainda fazem parte das minhas
navegações.
Sim, ainda navego muito Sou a capitã da minha
caravela e ainda estou em busca de especiarias. Navego em mares desconhecidos,
com dragões furiosos e péssimas condições de tempo e clima. Me tornei educadora
por imposição, mas EDUCADORA (com todas as letras maiúsculas) por opção,
determinação, coragem e ação.
Rita Germano
Professora, leitora, escritora e amadora. Roteirista - não praticante - da sua vida. Mas, para o mundo acadêmico, é mestranda em Educação pelo PPGE- FURG, especialista em Leitura e Produção Textual pela UFPel, licenciada em Letras pela Furg. Coordenadora do Polo de Apoio Presencial de EaD de São José do Norte e Coordenadora de Projetos na Secretaria Municipal de Educação e Cultura de São José do Norte.
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