quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Coluna


Terra à Vista (não a prazo!)


Senti a necessidade de repensar minha História (sim, com H maiúsculo) e tentar encontrar algumas respostas que, talvez, me induzam à percepção de como me tornei uma educadora, de como, hoje, tenho a ousadia de escrever sobre educação.Como toda “boa” História, a minha também deve ser entendida dentro de um contexto de grandes navegações: as minhas navegações.

Aventurada a descobrir o que o futuro profissional me aguardava, tinha objetivos definidos e extremamente claros de que o jornalismo seria a carreira desejada: não pensava em bancadas estáticas e formatos prontos de telejornais, pensava na correspondência internacional, navegar em terras desconhecidas era o foco certo.
Entretanto, essa tão objetivada terra que estava às minhas vistas estava também inserida em um sistema educacional que excluía alguns e elegia outros. Por não ter médias alcançadas em uma escola privada, interrompi minha navegação. Desci na terra mais próxima.
Sim, esta terra estava habitada. Não por mim... A terra já tinha seus ranços e eu ainda nem tinha os meus. Magistério foi o curso que me restou. Invasão à vista: Não, eu não invadi terras alheias, as terras alheias me escolheram. Mas, tinha a utopia de que muitos ventos iriam soprar e direcionar a minha caravela à minha Índia: o jornalismo que me aguardasse.
Mero engano. O sistema - nada democrático - educacional barrou a minha entrada em uma universidade que tinha o curso tão desejado. Eu precisava de uma moeda. O escambo não era permitido: Ora, eu poderia dar o meu empenho, a minha vontade, a minha determinação e eles me dariam o ingresso no curso. “– Não, senhora, precisamos de moedas –”.Minha terra, minha Índia, era à vista. Não a prazo.
Exclusão. Precisaria de uma universidade pública e gratuita que concordasse no escambo que eu poderia fazer. Mas, esta universidade não me proporcionava o alvará para que eu pudesse rodar o mundo em busca de informação. Esta universidade não me proporcionava a minha Índia. E um curso de Licenciatura foi uma terra avistada.
Paralelo, já havia me inserido no mercado de trabalho como professora. Sim, no sentido mais literal do termo mer-ca-do e no menos político da palavra tra- ba-lho. Era professora. Sem um ponto de exclamação no final. Onde estava a correspondente internacional? Era uma quimera. Nascia a professora municipal.
Revendo as minhas navegações, tento avaliar se me colonizei ou me colonizaram. Se invadi ou fui invadida. Tento avaliar o porquê o sistema vigente impõe tantas rotas aos navegantes. Quebra tantos lemes. Usa tantas âncoras. São muitas as indagações que ainda fazem parte das minhas navegações.
Sim, ainda navego muito Sou a capitã da minha caravela e ainda estou em busca de especiarias. Navego em mares desconhecidos, com dragões furiosos e péssimas condições de tempo e clima. Me tornei educadora por imposição, mas EDUCADORA (com todas as letras maiúsculas) por opção, determinação, coragem e ação.



Rita Germano

Professora, leitora, escritora e amadora. Roteirista - não praticante - da sua vida. Mas, para o mundo acadêmico, é mestranda em Educação pelo PPGE- FURG, especialista em Leitura e Produção Textual pela UFPel, licenciada em Letras pela Furg. Coordenadora do Polo de Apoio Presencial de EaD de São José do Norte e Coordenadora de Projetos na Secretaria Municipal de Educação e Cultura de São José do Norte.

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