quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Coluna




Eu leio. Tu lês. Ele lê. Todo mundo lê: a todo instante

Em nossas escolas, ainda hoje, há uma forte tradição de ensino de Língua Portuguesa baseado principalmente na sistematização gramatical, o que diz respeito à prescrição de regras de metalinguagem, o que pouco tem a ver com os objetivos de ensino de língua materna presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que descreve: “utilizar diferentes linguagens como meio para produzir, expressar e comunicar suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais em contextos públicos e privados, atendendo diferentes intenções e situações de comunicação” (1997, p.8).

Para tanto, não é necessário que o aluno decore regras gramaticais, e sim que ele tenha contato com a norma culta da língua, mais precisamente com os bens de consumo culturais que vão desde textos publicitários a clássicos da Literatura Brasileira.

Sendo assim, torna-se evidente que a leitura é um fator imprescindível para a interação do aluno ao meio social – é através dela que o mesmo saberá adequar seu vocabulário às diferentes situações do cotidiano – bem como, permite uma compreensão maior dos fatos, da história, da vida. E tem papel de auxiliar de maneira fundamental na formação do indivíduo, ampliando seus horizontes e suas perspectivas.

Segundo PLATÃO & FIORIN (2001) quando se fala em texto ou linguagem normalmente se pensa em texto e linguagem verbais, ou seja, naquela capacidade humana ligada ao pensamento que se concretiza numa determinada língua e se manifesta por palavras. Mas além dessa, há outros tipos de linguagens: a mímica, a pintura, a música, a dança, a fotografia, entre outras. E por meio dessas o homem também expressa seu pensamento, representa o mundo, se comunica e influencia os outros.

Muitos docentes resistem ao fato de levar para as suas aulas outro material que não seja o de seu uso comum. Isso implica mudança e não somente a mudança do material concreto, mas sim da postura enquanto educador, que muitas vezes já está impregnada de paradigmas. Simultaneamente lemos palavras, formas, cores, volumes, planos, luzes, gráficos, movimentos, sons, olhares, gestos, acontecimentos, sendo assim, não se pode restringir a tão vasta, ampla e instigante leitura apenas à linguagem verbal.

O rádio, a televisão, o cinema fornecem modelos daquilo que significa ser homem ou mulher, bem-sucedido ou fracassado, poderoso ou impotente. Tais meios também fornecem o material com que muitas pessoas constroem o seu senso de classe, de etnia, de raça, de nacionalidade, de sexualidade. Definem o que é considerado positivo ou negativo, moral ou imoral, certo ou errado, bonito ou feio. A cultura veiculada pela mídia fornece o material que cria as identidades pelas quais os indivíduos se inserem na sociedade. A cultura em seu sentido mais amplo, é uma forma de atividade que implica alto grau de participação, na qual as pessoas criam sociedades e identidades. A cultura modela os indivíduos evidenciando e cultivando suas potencialidades e capacidades de fala, ação e criatividade

As pessoas passam um tempo considerável assistindo a televisão, ouvindo rádio, lendo jornais e revistas, participando dessas e de outras formas da cultura veiculada pelos meios de comunicação. Sendo assim, trata-se de uma cultura que passou a dominar a vida cotidiana, servindo de pano de fundo sedutor para qual convergem às atenções e o comportamento do público/ receptor.

Sabendo de tudo isso é indispensável que se pense a leitura não apenas como decodificação de signos, mas sim que se pense em uma leitura mais ampla. Lemos o mundo. Lemos as cores. Lemos as músicas.Lemos os gestos. Lemos os filmes. Lemos as propagandas.Lemos o Tufão e a Carminha. Lemos Gabriela – cravo e canela. Lemos o horário político. Lemos. Lemos. Lemos. Lemos. A todo e qualquer instante.

Então, por que, nós professores reduzimos e fragmentamos a leitura apenas ao texto verbal?

Fica então a pergunta.

Dica:
  • A cultura da Mídia, Douglas Kellner


Rita Germano
Professora, leitora, escritora e amadora. Roteirista - não praticante - da sua vida. Mas, para o mundo acadêmico, é mestranda em Educação pelo PPGE- FURG, especialista em Leitura e Produção Textual pela UFPel, licenciada em Letras  pela Furg. Coordenadora do Polo de Apoio Presencial de EaD de São José do Norte e Coordenadora de Projetos na Secretaria Municipal de Educação e Cultura de São José do Norte.

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