quarta-feira, 19 de setembro de 2012

COLUNA




LER OU NÃO LER, EIS A QUESTÃO

Um dos primeiros ensinamentos que temos quando estudamos literatura em seus níveis básicos é de que a literatura divide-se em três principais gêneros: lírico, épico e dramático. Esta acepção, que remete a Platão e Aristóteles, afirma, basicamente, que a arte literária pode ser dividida em poesia (lírica), narrativa (épica) e, por fim, drama. Porém, sejamos sinceros, nos dias atuais quem efetivamente lê o gênero lírico?

Se voltarmos a pensar em Aristóteles – “base” da teoria acerca da literatura – iremos perceber que sua principal obra, a Poética, disserta, em linhas gerais, sobre a tragédia, que nada mais é do que gênero dramático, considerando-a como o mais elevado modo de produção. Ou seja, o drama gozava, então, de alto prestígio. Com o passar dos séculos, o drama manteve seu status, especialmente com o surgimento de gênios da arte escrita como Shakespeare, Goethe, Brecht, que se utilizavam do gênero dramático para expressar seu talento na arte escrita. Porém, lentamente, devido a drásticas mudanças histórico-sociais, o gênero dramático foi perdendo força, chegando hoje a um patamar secundário, diria, até, de quase esquecimento.

Obviamente, não estou ignorando que o drama é, em essência, uma arte incompleta. Sem dúvida, a arte dramática necessita do Teatro, da representação, para que tenha sua completude. No entanto, não é possível que somente através de seus textos possamos depreender o sentido de uma obra pensada para representação? Teremos que assistir a um Romeu e Julieta, um Édipo-Rei ou um Hamlet para que os conheçamos? Acredito que não. E é essa é a graça do drama. Sua leitura, por mais que “metade do caminho”, pode ser instigante e prazerosa, o que me remete, novamente, à questão acima: por que as pessoas não se interessam pelo gênero dramático?

Há alguns dias, um dos maiores dramaturgos brasileiros, Nelson Rodrigues, teve seu centenário comentado e alardeado. No entanto, poucas pessoas conhecem, efetivamente, a obra rodrigueana. Eu mesmo, confesso, acredito ter lido uma ou duas peças dele, no máximo. E não foi por falta de gosto. A verdade é que o acesso ao gênero dramático também é limitado. Até mesmo na Academia. E também não é por falta de material. Temos uma enormidade de dramaturgos brasileiros de ótima qualidade, desde Oswald de Andrade, Caio Fernando Abreu até Ariano Suassuna. Talvez apenas o último seja reconhecido por sua obra dramática, embora muito por falta de outras manifestações. Assim sendo, uma outra inquietação: por que a produção dramática de muitos (bons) escritores é relegada a um segundo plano?

É inegável que vivemos uma época narrativa. O século XX consolidou o romance e abriu espaço para o conto. Mas isso significa que devemos desprezar as outras formas? Acho que tanto interessante a leitura de um bom drama faz-se necessária e é de longe uma leitura “fácil”. A pergunta que fica é: já leu seu drama hoje ou ainda está esperando Godot?

Dicas de leitura:
  • Édipo Rei, Sófocles
  • Macbeth, William Shakespeare
  • Bodas de Sangue, Federico García Lorca
  • Esperando Godot, Samuel Beckett
  • O Homem e o Cavalo, Oswald de Andrade
  • O Santo e a Porca, Ariano Suassuna






Paulo Olmedo
Formado em Letras-Português, pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Atualmente é mestrando do Programa de Pós-graduação em Letras – Mestrado em História da Literatura, pela mesma instituição. Escreve contos e tem experiência na área do audiovisual e teatro. É dono do blog Vida Irreal (http://www.pauloolmedo.wordpress.com/).

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