domingo, 4 de agosto de 2013

Experimentos de Luciano Cáceres







Aquele dia

Aah, eu lembro como se fosse hoje. E já faz tanto tempo, tanto tempo. Foi um dia especial, aquele. O sol brilhava forte, apesar do frio, e tinha poucas nuvens. Um belo sábado pra eu encontrá-la. Ela, tão linda e tão encantadora. Sua juventude transbordando pela sua graciosidade. Falar desse dia, tanto tempo depois, me deixa um pouco melancólico pelo que já passou e não volta mais. Mas a memória daquela menina supera qualquer sentimento negativo.

Pensar nela me faz sorrir, pois eu me senti a pessoa mais feliz e completa da face da Terra naquele dia. Não, não estou exagerando. Pense comigo. Eu era muito jovem, sem experiência, bobo mesmo. Estudava e trabalhava na venda. Tinha tão pouco conhecimento do mundo e das pessoas também. Vivia sonhando pelos cantos. Com ela, principalmente. Ela ia seguido comprar coisas lá na venda. E eu sempre dava um jeito de atendê-la. Meu pai, sempre muito sagaz, percebia a minha intenção e facilitava as coisas. Aquela voz tão doce pedindo farinha, açúcar, arroz, banha me encantava e eu trazia tudo sorrindo. Quando não era ela que vinha fazer as compras, eu ficava muito decepcionado e parecia que o dia ficava incompleto. Sabe, eu ficava pensando se ela sentia a mesma coisa. Eu era muito bobo mesmo.

Então, naquele sábado, a cidade estava movimentada como se alguma coisa fosse acontecer. Algo importante. O burburinho na venda era que a cidade receberia uma carga muito importante vindo não sei de onde. Mas outros diziam que era uma pessoa, talvez o general Flores da Cunha, que estaria vindo. Eram muitos boatos. A mim, aquilo não interessava nem um pouco. O que eu não parava de pensar era no encontro que eu teria com ela. Estava tudo arranjado, já. Seria à tardinha, perto da igreja. Eu não via a hora. Me arrumei como se fosse pra uma missa. Meu pai e minha mãe conversavam o tempo todo sobre o tal acontecimento. Todos falavam. Mas eu não prestava atenção em nada do que diziam, de tão focado que estava no nosso encontro. Me dirigi, então, pro local combinado. Mas ai vi o problema. Tinha muita gente reunida ali! Era pra ser algo discreto, já que os pais dela não sabiam de mim. Eu estava começando a achar que não daria certo o encontro, ela não se arriscaria a sair comigo com todos ali, podendo ver que ela estava comigo.

O meu coração quase saltou do peito quando eu a vi. Não por ela, mas pela pessoa que estava do seu lado. Seu irmão mais velho, aquele chato de galocha, vinha acompanhando seus passos como uma sombra. Não, eu não fraquejei. Comecei a andar na direção deles, sem pensar muito o que poderia ser feito para contornar a situação. Quando já estava muito próximo, algo mágico aconteceu. Todos olharam pra cima. Todos menos eu e ela, que aproveitamos o momento de distração do irmão e corremos juntos para um lugar mais tranquilo. Corremos de mãos dadas. Parecia que estávamos fugindo do país. Foi maravilhoso, inesquecível o momento em que paramos, nos olhamos e, ainda tímidos, nos beijamos. Que belíssima tarde eu tive aquele dia! Depois, quando cheguei em casa, meus pais só falavam do tal acontecimento. Eu, extasiado, resolvi finalmente me informar. Era o Zeppelin que passava pelos céus de Rio Grande. Bendito Zeppelin!
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Luciano Cáceres, estudante de Letras Português/ Inglês da FURG, no segundo ano(ou terceiro semestre, como queiram) e bolsista PIBID Inglês. Gabrielense, 29 anos.

blog:http://tempedurad.blogspot.com.br/

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