quarta-feira, 18 de julho de 2012

COLUNA

UMA MOCHILA NAS COSTAS E A ESTRADA NOS ESPERA
 
Largando um pouco a analogia culinária das últimas colunas, vamos ao que interessa: falar de Literatura, na prática. E para desprender-se um pouco do engessado método escolar – não necessariamente acadêmico, voltarei a isso mais pra frente – não vamos rotular nada. Mas sim falar de tipos que se aproximam, convergem, e, claro, discutir leituras e incentivá-las.
 
Ano passado tive aula de Literatura Americana (ou seja, dos Estados Unidos) e para minha surpresa – ou não! – os estudos encerravam-se na época da chamada Geração Perdida – Fitzgerald, Faulkner, Hemingway, etc. Porém, meu conhecimento e interesse pairavam sobre um outro grupo de escritores, que influenciados por estes outros também fizeram a diferença na Literatura daquele país.
 
Este grupo de autores é comumente chamado de Geração Beat, mas como combinamos não rotular, vamos apenas dizer que estes caras revolucionaram por sua linguagem direta, rápida, por abordar temas do cotidiano que inquietavam os jovens e pensadores de sua época. O livro que mais se relaciona com esta estética, sem dúvida, é On the Road, de Jack Keroauc (que tem uma adaptação cinematográfica por sair). Considerado a bíblia beat, este livro influenciou várias gerações – Bob Dylan fugiu de casa por causa dele – e até hoje tem forte efeito. Narrando as aventuras – e desventuras – de Sal Paradise pelas estradas dos Estados Unidos, o livro nos dá uma sensação de liberdade muito grande, nos faz acreditar que o mundo é um quintal, que basta pôr uma mochila nas costas e veremos coisas que só a vida pode nos proporcionar. Confesso que ainda não li todo, mas fui tomado por sua intensidade e capacidade de nos demover do seu lugar. Fica como desafio para mim – e para vocês! – terminar a leitura antes da próxima coluna.
 
Outro exemplo dessa estética rápida e crua é justamente aquele que descarta o rótulo beat, chegando a espinafrar um dos ícones do propalado movimento (William Burroughs), estou falando de ninguém mais ninguém menos que o Dirty Old Man, Charles Bukowski. Suas narrativas confessionais e autoficcionais transbordam realismo e o lado B de uma América cheia de problemas, renegando seu tradicional way of life. Nos textos de Bukowski, geralmente temos o outsider, o cara que não se encaixa na sociedade e por isso precisa ou não dar mínima ou afogar-se numa garrafa de uísque. De qualquer jeito sempre haverá um bico para se trabalhar, para ganhar dinheiro para apostar nos cavalos e fumar cigarros baratos, vinhos de segunda e o uísque vagabundo. Esse é o mundo de Bukowski.
 
Para aqueles que querem enveredar por este mundo recomendo dois ótimos livros, Misto Quente e Factótum – ambos fáceis de se encontrar, em versão pocket – que mostram a saga de Henry Chinaski (alter ego do escritor), desde sua infância, até sua saída de casa, por aí, pelas estradas, pelos botecos.
 
Enfim, esta estética pode não ser exatamente a mais acadêmica, mas agrada em cheio ao leitor por trabalhar questões do dia-a-dia, de gente comum, questões que se passaram há pouco tempo, em uma realidade não muito distante. Deixo, então, algumas dicas de leitura das que foram levemente – ou não! – mencionadas aqui.
 
Dicas de leitura:
  • Enquanto agonizo, William Faulkner
  • On the Road, Jack Keroauc
  • Misto Quente, Charles Bukowski
  • Factótum, Charles Bukowski
  • O gato por dentro, William Burroughs





Paulo Olmedo
Formado em Letras-Português, pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Atualmente é mestrando do Programa de Pós-graduação em Letras – Mestrado em História da Literatura, pela mesma instituição. Escreve contos e tem experiência na área do audiovisual e teatro. É dono do blog Vida Irreal (http://www.pauloolmedo.wordpress.com/).

2 comentários:

  1. Conheces bem o meu amor por esses autores. A literatura desssa geração fala direto comigo, e até hoje não houve clássico que superasse o efeito que os beats e o Buko causam em mim.

    Ótimo texto, Olmedo, curti o enfoque. Só senti falta do Ginsberg. Mas sei que teu lance é prosa.

    Só pra registrar, ouvia o WHITE ALBUM enquanto lia teu texto.

    Abraços, brow!

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  2. Eu também não conheço bem o Ginsberg a ponto de falar sobre ele. Achei que tu ia gostar, mesmo. hehehe

    Próxima coluna tem mais, outros temas, outras opiniões :)

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