Sem título
Eu lembro o dia em que
tu nasceste. Era um fim de tarde frio e meio sombrio, mas foi o teu sorriso, os
teus olhos penetrando os meus que fizeram a tarde se encher de rútilos
dourados. Uma linda penugem dourada quase transparente cobria tua cabecinha,
tua pele rosada, as dobrinhas das perninhas, os dedinhos que um dia iriam
escrever bilhetes no dia das mães, e tudo ia se clareando a minha volta, e
ficando mais suave, acompanhando a noite que chegava com a lua prateada e as
estrelas a cintilarem o teu nome...
O primeiro aninho, com
balões coloridos, muitos pirulitos, a felicidade contaminando todos que foram
te ver, os teus dindos, vovô e vovó, as tias e os tios, e os teus primos
brincando e cantando Parabéns a você...
As fotos na estante me
dizem eu te amo, e eu te olho tão ternamente, com coração de mãe, com olhos
atentos, com os braços abertos e te aperto em um abraço. E teu sorriso vem
sempre me dizer bom dia, e depois da aula, aquela briga: faz os temas, como foi
a prova, vai tomar banho, menino, o jantar tá pronto, sai do feice, olha a
hora, vai dormir que amanhã tu tens que acordar cedo...
Sabe, filho eu lembro
quando tu aprendeu a andar de bicicleta, mãe, olha eu consigo, olha mãe, eu to
livre, eu sei andar... e depois aquela sensação de felicidade enchendo meus
olhos de lágrimas.
E no Natal, a espera
pelos presentes, olhando todos os dias debaixo da árvore, os presentes em
papéis coloridos, vivos, teus olhinhos vibrando de ansiedade e curiosidade,
esperando, contando os dias, saboreando cada minutinho antes de abrir teus
presentes, eram tantos, e tão lindos, e como era maravilhoso te ver cheio de
alegrias.
E daí, um dia tu
resolveste que ias reger tua própria vida, tocar em frente, descobrir em outros
horizontes novas possibilidades, vou sair pelo mundo mãe, eu vou ficar bem,
prometo que te ligo, ou a gente se fala pelo feice, e olha, eu aprendi tudo,
tudinho que tu me ensinou, agora eu sei que posso andar sozinho, não chora,
mãe, porque assim fica mais difícil, e agora eu preciso mesmo ir... Eu Te Amo
Mãe!
E tudo ficou impregnado
na minha lembrança-imaginação, tudo jogado em uma lixeira qualquer, numa rua
qualquer, num dia qualquer, que hoje eu já não lembro mais, e não tenho o teu
cheiro mais em mim, e não tenho as fotos que não tirei, e não tenho as recordações,
e nem o bilhetinho de dia das mães, e nem nada, e tudo ficou no passado,
ecoando no hoje, na minha desilusão, na minha inexistência mergulhada na
infinitude da minha dor...
P.S. Eu te amo!
Perdão
Te descarto
Inconsciente do gesto
Não que eu queira realmente
É que assusta
E traz lembranças desassossegadas
E no caos
Envolto em linho branco
Te entrego ao cais
Te vejo submergir
De volta ao líquido
E agora uma noite sem cor
É meu trilho, meu caminho
De volta à solidão
Ao tempo hirto
Ao tempo ido
E me despeço depressa
Antes que as lágrimas
Pintem meu rosto de cinza...
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Lilian Ney - Era verão quando nasci, lá em Sampa, não por
escolha, mas acaso do destino ou desatino da minha mãe que foi viajar mesmo
sabendo estar no último mês. Achei legal, quando crescer quero ser igualzinha a
ela. E hoje, eu escrevo sobre ocos, uns vazios, umas iluminuras, outras
molduras, desventuras, (des)amores, saudades, o tudo e o nada, o vento, as
margaridas e os girassóis, nessas tessituras que percorrem linhas desavisadas!
E são tantas: http://lilianney.blogspot.com.br/
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lINDO TCHÊ, ACHO QUE SÓ EU SEI DO QUE FALAS (TEXTO 1)
ResponderExcluirEmocionante ! eu sei , eu conheço esta dor . A gente acostuma com ela mas as vezes ela vem muito forte como neste momento ! Beijos minha linda!!!!!!!!!!!
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