Desaparecido em um poema
Pé de laranjeira
Sol das três e meia
Ramiro passeia.
Cai a folha do pé,
Lentamente, até o seu
Ramiro tem uma ideia
Sai de bicicleta
Enquanto o vento
Bate no rosto
Como uma pluma
Bate em uma flor
Ramiro segura
Olha o céu, azul refletido
Olha o mar, pureza refletida
Ramiro e os espelhos
É ele e mais um
A família grita
Irmã, cunhado, galinha
Disparatada no quintal
Todos se ressentem
Deixaram Ramiro sair
Ficam em busca da lacuna
De sua própria reticência.
Desaparecido em um conto
Homem. Seu nome? Roberto. Mas pode chamar de sujeito complexo do século XX (pode chamar de XXI também, há tempos somos complexos...). Em uma nota do jornal da cidade a família procura por esse homem o qual alegaram nunca foi muito certo, mas nunca maltratou ninguém, seu delegado.
Do outro lado da cidade, Roberto enfiou-se em uma pocilga qualquer. Era o que poderia ser pago com aquelas poucas moedas. Do bigode, fez uma gruta de pelo preto, jogou na privada. Deu descarga. E foi-se por água abaixo o que um dia fora Roberto. Agora era Alfredo. Ou seria Plínio? Era tantos aquele homem! Doença, doença triste, dizia a senhora sua mãe. Nunca se sabia com qual deles se falava. A irmã chora, quer porque quer o irmão de volta.
Do outro lado da cidade, o novo homem, decididamente Álvaro agora, sai a pé, calçando um par de lindos sapatos. Os chinelos rotos foram deixados no primeiro latão de lixo que encontrou. Mas... como esses sapatos? Na vida gastamos ou contemos aquilo que nos convém. Seu sonho era estar sozinho e poder sair a andar calçando sapatos confortáveis e bonitos. Livrou-se de tudo e todos, abandonando sua triste doença chamada sociedade.
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Suellen Rubira - Formada em Letras Português/Inglês pela FURG, atualmente é mestranda em História da Literatura. Apaixonada por literatura (russa, principalmente!), música, línguas estrangeiras e Edgar Allan Poe. Leciona inglês para pré-adolescentes e adultos; canta nas horas vagas; escreve um pouco, mas não gosta do resultado, por isso procurou ajuda com os Fitas. Faz crítica literária de meia tigela no blog www.freakinthesky.wordpress.com.
Twitter: www.twitter.com/@Freeakz
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