segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Experimentos de Juliana Padula







Sem título

Desde pequena Valquíria viveu na roça. Em sua família eram cinco irmãos, três meninas e dois meninos. Ela lembra que sempre foi muito bom. Brincavam muito. Ela recorda de muita coisa da convivência com os avós quando criança. O avô era contador de estórias. Iam todos para casa dele e ficavam sentados ouvindo as estórias. Mas ele só contava a noite, de dia não. E não repetia. Se fosse contar uma história e alguém falasse que aquela ele já tinha contado, contava outra. Ele nunca contava a mesma história. A sua avó disse uma vez que o avô dela era alemão e tinha casado com uma Puri. Por causa disso, a família era toda assim, misturada. Da agricultura ela também tem muitas lembranças. Principalmente de sua mãe, que foi com quem mais aprendeu. Por vontade de permanecer trabalhando na terra há três anos Valquíria financiou um terreno e vive hoje num assentamento de agricultores no interior de Minas Gerais com sua filha Jaíne, uma garotinha sapeca de seis anos. A vida que elas levam não é fácil, mas nem por isso ela deixa de acreditar num futuro melhor para ela e para a filha.

No último verão Valquíria e os outros agricultores que tinham investido trabalho e recursos no plantio de feijão começaram a ficar preocupados com a seca que estava brava e com a chuva que teimava em não cair. Para procurar uma saída para o impasse da seca, no domingo depois da celebração as famílias se reuniram.

Diante daquela situação Valquíria rememorou a infância. Partiu dela a ideia de construírem um cruzeiro para que pudessem rezar para chover. Itamar, um dos agricultores, disse que tinha vontade de fazer um cruzeiro em um lugar no alto do morro da sua lavoura de café. E depois disso ficou marcado para o dia seguinte, ao meio dia, naquele local para rezarem para pedir chuva.

Como foi firmado, no outro dia Valquíria e a filha foram passando no meio da lavoura de café em direção ao local combinado. Foram rindo e batendo papo, e até erraram o caminho! Mas ninguém sabia ao certo o lugar de passar direito. Chegando lá, Itamar já tinha limpado o local e colocado o cruzeiro de madeira. Foram todos chegando, se acomodando. E colocaram-se a rezar pedindo chuva, porque a seca estava muita e estavam precisando da chuva.

Foi assim que surgiu o cruzeiro. E ali agricultores e agricultoras rezaram dois dias seguidos sempre ao meio-dia. Uns carregavam pedra, outros carregavam água em forma de penitência, pedindo a chuva em troca. E foi que no segundo dia, quando chegaram em casa, choveu muito. Por causa do pedido atendido, no terceiro dia, todos subiram de novo para rezar, dessa vez em agradecimento. Aquele foi um momento grandioso, de muita fé do povo.

Valquíria se lembrou da mãe que ensinou a rezar para pedir chuva quando o sol estava muito quente na roça. Em outra época, quando vinha aquela temporada que chovia muito sua mãe mandava ela os irmãos desenharem um sol no chão do terreiro. Um sol bem alegre, todo cheio de riquinhos. Então era só desenhar que ele aparecia de verdade. Sua mãe sempre falava que Deus ouve muito a gente, mas ouve muito mais as crianças. Porque as crianças são puras de coração, são inocentes. Foi assim que ela aprendeu quando era pequena.
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Juliana Padula - Sou geógrafa e faço mestrado na Geografia na FURG. Ou seja, minha vida tem sido ler e escrever desde o ano passado. Moro em Rio Grande há mais ou menos um ano e meio e tenho tentado não apenas consumir o espaço da cidade, mas morar realmente aqui. Achei que o projeto pudesse ajudar, porque fica mais fácil quando você conhece pessoas, tece redes, cria laços.

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